sexta-feira, 5 de outubro de 2012

um domingo no parque

*Por Ale Carvalho
Domingo passado no Parque de Pituaçu aconteceu o espetáculo do Grão de Circo Pé na Terra. Como o quiosque estava ocupado com um evento, nós fomos cortejando de lá até a frente do parque chamando as pessoas a participarem do espetáculo. Já nessa hora, rolou uma conexão maravilhosa de amor e alegria entre a cia e o público, o que é super válido, já que o caminho do palhaço remete a conexão de almas a partir dos olhos, na minha singela opinião esse um caminho para a mesma.

 Adultos, crianças e crionças fizeram questão de levar os pés no coração, e quando paramos no local escolhido para ser o do espetáculo, o arrastão que nos seguiu já havia se tornado uma multidão ansiosa. Sim, mas o público é como um jardim e precisa ser regado para não morrer. Isso ficou a cargo da música e principalmente das brincadeiras dos palhaços Zédispeto e Caxambó, o branco e o augusto na cena. Os corações das pessoas iam aos olhos de tão brilhantes e as palmas foram se tornando cada vez mais constantes. 

Os transeuntes  paravam só para ver o que eram aqueles bichos esquisitos fazendo esquisitices e eram envolvidos por aquela esfera de amor. Os dois palhaços continuaram a apresentação, dessa vez com malabares. Foi lindo também, e engraçado demais. Nessa hora o público já ia ao delírio. As crianças e os seus pais se divertiam como se fossem todos da mesma idade. 
Pronto, a palhaça Didi Siriguela invadiu a cena para um amistoso pingue-ponge de piolho com o seu companheiro caxambó. Depois de muitas piolhadas, e cada vez mais gente agregando a roda, aconteceu algo magnífico. 

O quê? A mágica. Oh! Mágica? Sim. Isso mesmo. O mágico Coringa deixou todos perplexos com dois números incríveis. Em seguida, em meio a muita música, Caxambó e Zédispeto voltaram a cena, dessa vez com um número clássico, o abelha-abelhinha, com direito a mel na boquinha e tudo. 
E quase pra finalizar, foi passado o chapeu, que mais que uma tradição é um ato político. Houve o número de finalização, maravilhoso como os outros, o que ficou refletido nos olhares e sorrisos do público, um jardim agora repleto de rosas de todas as cores, gardênias, girassóis e cravos, pois naquela hora contada de espetaculo, um ínfimo se comparado as horas de suas semanas como pessoas "normais" esses seres tiveram a felicidade de ter as almas regadas pelo amor dos palhaços e artistas presentes no local.

Com certeza em suas semanas e para sempre lembrarão daquele acontecimento apoteótico como eu lembro do brilho de cada um daqueles olhares nos amando. Nada é por acaso e aquele encontro também não foi, afinal, também fomos e somos regados. A cada pequena ação como essa a realidade muda um pouco na vida das pessoas e no mundo. Somos transformadores. Eu sou, você é. O primeiro passo é acreditar. 

domingo, 26 de agosto de 2012

A dor e o prazer em ser palhaço: uma questão de atitude.

*Por Igor Caxambó (Cia Pé na Terra)



Rua das Artes Encontro de Circo é, como o próprio nome revela, um encontro que envolve arte circense e arte de rua, tudo ao mesmo tempo.  Este encontro é organizado pelo MAR de Palhaços, um movimento que engloba vários palhaços independentes e representantes de grupos. Mas, logo de saída, por que um encontro de circo, organizado por um movimento de palhaços?

Venho aqui falar de princípios. Em primeiro lugar, um princípio do artista denominado palhaço, é a versatilidade artística, o que casa perfeitamente com a versatilidade exigida pelo cotidiano do artista de rua.  Em segundo lugar, o princípio essencial do Rua das Artes Encontro de Circo está na história de seu surgimento: Palhaços que passaram a se encontrar para exercício e capacitação crescente da nossa função, que tem sido a de palhaço de rua, o que por sua vez exige um busca por excelência artística dentro da diversidade típica das artes circenses e principalmente na história do palhaço.

Buscando humildemente crescer nos nossos fazeres artísticos, também precisávamos de um encontro permanente para nos vermos, elaborarmos, movimentarmos e exercitarmos nossa generosidade de palhaço. Enfim para podermos exercer nossa função de amar e nos fortalecer, gerar espaço de trocas e qualificação.

Nos fortalecer significa que para viver com o prazer a que nos propomos é exigido de nós um esforço extra em relação à nossa atitude energética diante da vida. Precisamos ter a disposição de um guerreiro para não sucumbir diante das dificuldades. Dizem que para viver de arte aqui no Brasil tem que estar preparado para abnegação. Mas abnegação de quê? Respondo logo: de um modo de vida baseado na espetacularização da sociedade, ou seja, da mercantilização do cotidiano que significa a banalização da sociedade de consumo.

 Na realidade abnegação, se é que existe, vem antes, não como um esforço, mas como algo natural de quem se conscientizou de como é superficial e infeliz toda nossa relação social baseada no consumo, no "ter" ao invés do "ser" , no eterno desejo e nunca no prazer e satisfação. Como nossas relações sociais estão poluídas com idéias ilusórias de quem realmente somos!!!

O palhaço é uma exposição da nossa essência , sem criação de máscaras sócio-comportamentais. Para isso é preciso coragem, a coragem de se arriscar, de se jogar para vivenciar o prazer da plena presença, mas correndo o risco de vivenciar a dor de estar presente, enfrentar a insistência da ausência do outro.

Nós um dia optamos sair desse marasmo: casa – shopping- escola ou: Casa – trabalho – bar. Muitas pessoas vivem hoje a segurança em detrimento da própria liberdade. Tudo bem que uma pessoa queira uma determinada estabilidade financeira, um mínimo de conforto e segurança para si e sua família. A questão é que a sociedade em geral ( e olhe que não estou dizendo TOTAL), está engessada na sua própria segurança, autodefesa e acomodação. Pobres, pobres, pobres!!! Com medo de arriscar-se não compreendem nem a sujeira do canto da unha do dedo mindinho do pé esquerdo do que estão realmente perdendo. 

Através da atitude de encarar uma batalha e desafios, nós artistas -palhaços enfrentamos a morte a cada dia, porque a cada dia observamos nossas transformações dizendo adeus aos nossos antigos vícios. Cada vez que arriscamos nos doar generosamente para um público, ou enfrentar um palco aberto, estamos colocando nossa dignidade à prova. Temos que empenhar uma energia para sairmos vivos e se sairmos...ah!!!E se sairmos!!! Saimos outros totalmente diferentes.

 A cada morte, um renascimento. Nossa essência vai assim rompendo as cascas que nossa educação escolarizada criou na nossa corporeidade. PAssamos a compreender que o natural é sentir dor e prazer e que ISSO É VIVER!ISSO É NATURAL!!!Como fomos afastados de nós mesmos! Pra retornarmos pode não ser fácil, mas pode ser também, é uma questão de atitude.


sábado, 4 de agosto de 2012

MAR DE PALHAÇOS: ARTE DE RUA COMO UM ATO POLÍTICO DE ECONOMIA SOLIDÁRIA


* Por Igor Caxambó 
(em comemoração aos 5 anos de Cia. Pé na Terra http://www.penaterradospalhacos.blogspot.com.br/)

MAR DE PALHAÇOS: UM POUCO DE HISTÓRIA

O MAR de Palhaços surgiu como um movimento tanto de formação e fomento a palhaços de rua, quanto de fortalecimento e recriação de pontos permanentes de encontro entre artistas e público. As práticas sempre se pautaram em princípios da educação libertadora (Paulo Freire). Antes de ler e escrever, o método Paulo Freire explicita a importância de aprender a ler o mundo. E nosso intuito é fincar nossa consciência através da libertação do olhar de um palhaço.(vide artigo anterior em http://www.mardepalhacos.blogspot.com.br/2012/07/olhar-de-palhaco.html)



Nossa preocupação com a sustentabilidade do artista DE rua está relacionada com a perpetuação desta arte NA rua. Que tipo de transformação isso pode causar na sociedade? Como essa ação constante e cotidiana pode gerar modificações no uso do território? Venho relembrar a história de formação da MAR de Palhaços que pode ser constantemente revisada nos arquivos deste nosso blog. O Movimento em si surgiu pela união inicial de ideias e práticas compactuadas por duas companhias: A Cia Pé na Terra e a Cia Obcena de Artes. O primeiro ponto do MAR de Palhaços, onde tudo começou, foi o Parque de Pituaçu e os princípios do movimento já eram praticados desde 2009, quando nós da Cia Pé na Terra iniciamos nosso trabalho de ocupação do parque e criação de uma cultura local de apresentações de rua. Nas palavras de nosso irmão Sabiá

No domingo dia 09 de maio de 2010, Caxambó, que ocupa já há bastante tempo o parque de Pituaçu, convidou diversos palhaços para participarem da sua roda, às 10h.
O intuito foi o de aproximar os palhaços primeiramente, alguns mais iniciantes com outros com um pouco mais de prática e experiência [...]



(fragmento de relato feito em 23 de maio de 2010. Link http://www.mardepalhacos.blogspot.com.br/p/de-2010.html)


Isso não quer dizer que nós somos os Pré-Deuses que criaram a história dos dinossauros não (auhauhauah). Trago essa história para pensarmos onde nossas ações de generosidade podem nos levar e denuncio (como palhaço que sou) que mais do que exercer a generosidade do palhaço, uma prática espiritual que tentamos levar para o cotidiano de nossas relações sociais, pensávamos em nós mesmos, nessa nossa liberdade de viver da nossa arte, de fortalecer esse movimento impulsionado pelo chapéu, que cresce na medida em que outros façam isso também.

Ora, a Cia Pé na Terra comemora 5 anos de existência agora em agosto, sendo desses, são 4 anos de ação no Parque de Pituaçu e 2 anos de MAR de Palhaços, quando passamos a sistematizar esse princípios dentro de um movimento maior , em parceria com outra cia,  a Obcena de Artes,  e abrindo rodas em um sentido duplo 1)roda de público, aquela que já fazíamos e 2)abrindo nossas rodas para que outros palhaços aproximassem-se para a partir de uma prática em conjunto criando um sistema de aprendizagem e profissionalização. Nas palavras de Sabiá de novo, em maio de 2010:



Em Pituaçu já existe uma cultura de roda de palhaço aos domingo, esta foi construida ao longo de alguns anos de insistência pela Cia Pé na Terra (Caxambó e Didi Siriguela), mais especificamente falando em se tratando desta roda no Parque de Pituaçu. 

hj, em salvador temos rodas em Pituaçu ( Pé na Terra, domingo de manhã), praça do Campo do Campo Grande e Praça Ana Lúcia Magalhaes/Pituba (Nariz de Cogumelo, domingo a tarde e sábado a tarde), em Estela Mares(Malabres Màgicos, não sei o dia certo).

Salvador tem muito mais bairros, ainda ocupamos pouco, ainda levamos pouco a nossa cultura, educamos pouco a nossa sociedade com a arte de rua. em qualquer periferia, as pessoas gastam seu dinheiro em festas e bebidas, o que caracteriza que não se trata do dinheiro estar só na mão dos que moram nos bairros nobres, porém, nestes locais, por motivo de acesso a cultura, as pessoas estão mais habituadas  a pagarem pela graça recebida através da arte.

Queremos abrir rodas onde quer que seja, do bairro nobre à periferia, cada qual em sua realidade e cultura.



RUA DAS ARTES: DESESCOLARIZAÇÃO VERSUS SOCIEDADE DO ESPETÁCULO






O Rua das Artes Encontro de Circo tem sido esse lugar de desconstrução da sociedade do espetáculo, onde nós que estamos realizando arte de rua na cidade nos encontramos para fortalecer nossas práticas, aproximar nossos corações através de uma função coletiva de arte, com trocas, capacitações e aproximação de novos parceiros interessados em seguir cumprindo esse nosso imporatnte papel. Esse é o nosso reduto, onde compartilhamos nossas dores, prazeres, sabores e dissabores.

Segundo Guy Debord, no livro A sociedade do espetáculo vivemos numa realidade, resultado e projeto do modo de produção existente, cujas relações sociais são mediatizadas por imagens que geram uma visão cristalizada do mundo, o foco do olhar iludido e da falsa consciência, além de uma ampliação da distância interior na medida em que suprime a distância geográfica. Nas palavras dele a unificação que a Sociedade do Espetáculo realiza não é outra coisa senão “a linguagem oficial da separação generalizada” ou uma “separação espetacular”.
Assim fica fácil enxergarmos por que é muito comum vivermos num modelo social de “afirmação da aparência e a afirmação de toda a vida humana, socialmente falando, como simples aparência” ou seja, o modelo de dominação da economia sobre a vida social prioriza o ter e o parecer em detrimento do ser,  que gera uma comunicação de mão única produzindo “verdades universais”, inquestionáveis que deve ser aceitas passivamente:

A alienação do espectador em proveito do objeto contemplado (que é o resultado da sua própria atividade inconsciente) exprime-se assim: quanto mais ele contempla, menos vive; quanto mais aceita reconhecer-se nas imagens dominantes da necessidade, menos ele compreende a sua própria existência e o seu próprio desejo. A exterioridade do espetáculo em relação ao homem que age aparece nisto, os seus próprios gestos já não são seus, mas de um outro que lhos apresenta.

Imaginemos que neste tipo de contexto aparecem pessoas que pintam seu rosto, colocam o nariz vermelho e se vestem de uma maneira que expõe seu próprio ridículo a fim de realizar trocas humanas, fomentar emoções, gerar conexões transgressoras para o território. Ser palhaço é um caminho de auto-conhecimento, de auto-cura, de conectar aos próprios desejos reais. Poderíamos dizer que essa busca do ser palhaço é altamente anti-espetacular, porque ela fortalece o ser reduzindo o ter a uma piada reflexiva, ou no caso do artista de rua, a um fluxo energético que passa pelo chapéu e sustenta a empreitada da busca pelo ser.
Hoje o MAR de palhaços se configura por pessoas que um dia se apaixonaram  por essa arte e se empenharam a levá-la para rua. A graça, a cura, o riso, as lágrimas, a auto-exposição, a denúncia verdadeira de quem somos através da dilatação dos nossos próprios erros. Costumo sempre dizer que 4 paredes são limites muito estreitos para um palhaço e que o lugar dele mesmo é na rua.

Mas não pense que tem sido fácil. Somos desbravadores desta selva de pedras, porque o modelo de ideias cristalizadas comentado por Guy Debord procura não permitir que sejamos livres. Enfrentamos preconceitos e uma cultura mediatizada por imagens espetacularizadas. Até dentro do próprio meio artístico convencional aparece aqueles que menosprezam a ideia da arte de rua e consideram-na como algo menor. A função do Rua das Artes Encontro de Circo, tem sido a de destruir essa relação espetacularizada com a arte abrindo canais de acesso onde os fazeres artísticos são processos formativos. A educação e arte juntos destruindo bases que fundam a sociedade do espetáculo.

A passividade que a sociedade do espetáculo constrói está na base da reprodução social de nossa existência, como uma doença que começou escondida na raiz e atinge um fruto de uma árvore. Mas que raiz é essa que estamos falando? Onde está o poder de reprodução social da cultura da sociedade do espetáculo como produção inconsciente da consciência espetacular dos nossos dias? Estou falando da educação. O modelo educacional conectado a essa sociedade do espetáculo está relacionado ao modelo de escolarização a que todos somos submetidos desde crianças, quando nossas vontades são ainda frágeis e nossa consciência é dobrável aos ditames do mundo adulto. Esta escolarização crescente nos faz desconectar da nossa potência de vida tornando nossa vida e nosso acesso ao conhecimento algo passivo e destituído de atitude política.

Para finalizar deixo a citação de uma grande amiga, Ana Thomaz (http://www.anathomaz.blogspot.com.br/), que um dia resolveu seguir pelos caminhos da desescolarização e vem sendo fonte de inspiração para a Cia. Pé na Terra e essa idéia que nos faz trilhar pelo MAR de Palhaços de que o simples fato de termos escolhido viver da arte, é uma ato político:

A quem estamos remetendo a responsabilidade dos nossos modos de vida?

De onde veio a ideia que a realidade está pronta e que precisamos aprender a fazer parte dela??

Onde aprendemos a sentir tanto medo do aqui e agora??? Eu acredito ter aprendido tudo isso e muito mais (competitividade, comparação, julgamento, especulação, ser carreirista, a desconexão corpo/mente...) na escola, e se não foi na escola, certamente foi la que por muito tempo pratiquei esse modo de vida. 

para mim o problema central da escolarização é que além de praticar todos esses conceitos que citei acima, os alunos estão a serviço das aulas, da programação pedagógica, do conhecimento, dos conceitos; fazendo com que os alunos se afastem cada vez mais de si mesmos e seus desejos, a ponto de ser necessário fazer um teste vocacional para saber em que área vai render melhor, a serviço de um sistema que precisa continuar a ser alimentado para existir. 



sexta-feira, 27 de julho de 2012

Rua das Artes: um MAR de saúde e anarquia



O que torna ou caracteriza o uso do espaço é o seu uso. Intensificar o uso público do espaço é um dos objetivos do MAR de Palhaços. Mas não é somente isso. Nosso objetivo é fortalecer nossa prática de arte de rua que é intrinsecamente pública, com a consciência de que nossa arte, para continuar existindo e se fortalecendo, precisa de espaços públicos bem servidos dos elementos principais que o caracterizam como públicos: as pessoas. 

O poder da arte de rua é de agregar as pessoas, acalentar espíritos, tornar o entretenimento algo realmente importante no sórdido cotidiano produtivista deste sistema em que vivemos. Dizem que vivemos em um estado de democracia e de liberdade, mas a verdade é que uma pequena elite de poderosos vive a democracia entre eles e desfruta da “liberdade” de oprimir através de um sistema de escravidão assalariada. Através de poderosos discursos ideológicos permanentemente introjetados na nossa cultura materialista, algumas “verdades” sobre o ato de fazer arte desconsideram sua importância e relegam-na a algo menor pois afinal, o que a arte produz de fato? Qual bem material a arte produz? Nenhum, efetivamente?

Para nós, do  MAR de Palhaços, a arte pode produzir no mínimo liberdade, saúde e consciência. A capacidade de conexão inter-humana nos faz bater mais forte nosso coração. Expressar-nos ao ar livre nos faz enxergar coisas que dentro de quatro paredes servindo a um patrão ou ao Estado nunca seriam enxergadas. Passamos a pulsar contra os condicionamentos correntes do sistema sobre os seres humanos e a irradiar energia dentro de um fluxo de possibilidades. Somos perigosos para o sistema porque não aceitamos o fato dado, a  realidade como ela é. Acreditamos que podemos modificá-la e acreditem, nosso poder de criatividade já a modifica. Não é revolução, não nos moldes clássicos, mas é anarquia sim! É liberdade ao extremo, mas não a liberdade burguesa. A liberdade que cultivamos é aquela que só aumenta quando aumenta a liberdade do outro, pelo simples fato de que quanto mais livre o outro mais difícil da liberdade acabar. É Hiper-Evolução (não confundir com Hiper-revolução). A Hiper-evolução se faz com micro-revoluções cotidianas e essa é a principal característica do Rua das Artes Encontro de Circo.

No dia 24 de julho de 2012, por exemplo, essa nossa ação adquiriu mais poder nesse sentido. Nosso camarada Ale, o poeta, já viu a galera da Dança de Rua fazendo uma função na sinaleira, já convidou a galera pra aparecer e a galera já deu o ar da graça no nosso encontro. E assim vamos seguindo, formando aqueles que se interessam em adentrar no mundo da arte de rua e agregando aqueles que já a praticam. Fica um desafio para todos nós. Estamos cuidando para que isso se torne sistemático? Que outras micro-revoluções podem ser acessadas através disso? Como podemos fluir para o cotidiano? Não esperamos que nenhuma resposta surja de um líder iluminado pelo farol de seu próprio ego, mas insistimos que esta resposta surja na consciência geral, através de todos nós e que nossa conexão Hiper-Evolucionária mostre que dependemos somente da responsabilidade de cada um e da conexão de todos. 

quinta-feira, 19 de julho de 2012

OLHAR DE PALHAÇO


A cada terça-feira que chega passamos a nos surpreender ainda mais com esse poder humano que acessamos nesta empreitada que tem sido o Rua das Artes Encontro de Circo. Neste dia 17 de julho de 2012 foi muito lindo de ver as atividades acontecendo espontaneamente pela praça do Campo Grande, numa plena terça-feira, dando cor ao espaço e ao tempo, através da união de nossas energias e intentos artísticos. No mínimo houve palco aberto com belíssimas apresentações, recital de poesia, treino de malabarismos diversos, oficina de bastão, oficina de perna-de –pau e a oficina o “Olhar do palhaço”, a partir da qual pretendo refletir aqui sobre o Rua das Artes Encontro de Circo e o MAR de Palhaços.

Há algum tempo a arte do palhaço vem ganhando força em Salvador e os que têm mantido seu intento vivo e inflexível para fortalecer cada vez mais a existência dessa arte, tem também experimentado um prêmio esplêndido. Vivenciar a arte do palhaço é mudar nossa forma de ver o mundo. O olhar do palhaço está repleto de vida, como o olhar de um guerreiro que desafia os ditames da morte. Mais do que isso, nós palhaços aprendemos a enxergar que precisamos desafiar nossos limites, nos entregando a eles, denunciando eles para o mundo, aceitando-nos. O Olhar do palhaço é o olhar de uma paixão, a paixão pela vida, pela existência, pela presença...

Conectar-se com as pessoas através desse olhar muda toda a perspectiva e determinação da construção energética dos sucessivos momentos. Estar presente, inteiro, integral, oferecendo sua alma para que as pessoas possam beber de uma troca humana cheia de espirituosidade e inocência é pura generosidade. Dar do que temos nunca poderá valer mais do que dar do que somos. Estar receptivo e alerta, com atenção a nossos semelhantes é uma ato de coragem inestimável e com certeza gera uma transmutação naqueles que se arriscam a seguir essa vereda.

Mas conectar-se cenicamente não é somente uma ato passageiro de prazer, é um exercício que detona espasmos de consciência cotidiana e uma série de reflexões inevitáveis e profundas sobre nossas relações sociais e como elas vêm se concebendo na contemporaneidade. Como a mesquinhez vem dominando as relações econômicas historicamente e como isso vem afetando o cotidiano das pessoas está materializado na configuração de nossos espaços públicos. A configuração envolve não somente sua estruturação física, mas a dinâmica de seu uso. O Rua das Artes Encontro de Circo vem cumprindo bem, a meu ver, um papel hiperevolucionário de transformar o uso do espaço. Aliás esse é o papel que há muito o MAR de palhaços vem cumprindo há um tempo em Salvador. Transformar o uso do espaço através da criação de uma Zona Autônoma Temporária, de tal maneira que isso marque permanentemente a memória do espaço.


Tem sido muito bom participar do Rua das Artes e, com meu olhar de palhaço poder assistir as pessoas que se entretinham nesta jornada a jornada da construção de um espaço melhor, de uma cidade melhor e de um mundo melhor...e por que não?!!!!!!

Igor Sant'Anna Caxambó

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Rua das Artes: um MAR de Amor


Por Igor Sant'Anna Caxambó 
Cia Pé na Terra - http://www.penaterradospalhacos.blogspot.com.br/
*fotos por Safira Moreira


Nossa razão está condicionada por um sistema escolar que institucionaliza nossa existência material. Somos praticamente obrigados, pela cultura da escolarização, a escolher viver nos moldes criados por outrem, sem refletir, sem sentir e sem ter tempo de desenvolver nossa subjetividade. Os valores disseminados pela institucionalização do saber, a escola e todo seu sistema educacional, nos impõem um modo de vida baseado no consumismo, do ter em detrimento do ser. 




Parece-nos até que essa imposição acontece de maneira sutil, mas não é bem assim. Há um sistema que trabalha através das lacunas da "consciência desatenta", ou seja, estamos desatentos com nós, nosso corpo, nossa emoção, nossa personalidade, nossa individualidade/coletividade. Nossa desatenção conceitualiza essa imposição declarada como sutil, mas não há nada de sutil, a verdade está posta. Precisamos desenvolver nossa subjetividade coletiva, a identidade do nosso tipo de sociedade ou micro-sociedade em que nos instalamos está no caráter dos nossos espaços públicos, na razão e emoção de sua existência.


A arte do palhaço é  arte de enamorar-se da vida. Apaixonar-se pelas pessoas significa deixar que o amor flua através de nós. Alinhar com um estado de consciência em que pese a plena presença, a sensibilidade intuitiva e uma "rebeldia não-revoltosa". Não é um ato de rebeldia mas de abandono. Como abandonar este sistema estando dentro dele? Vivenciá-lo sem cumprir sua cartilha?"Eles" querem que vivamos sem pensar? Antes querem que vivamos sem sentir o que nos é autêntico sentir. Dizem que devemos seguir os caminhos da razão contra os caminhos do coração. Aquele que seguir o caminho de seu coração é considerado um louco! 


Mas quem dita os caminhos da razão?


REflexão: o que é esfera pública na sociedade de hoje? Por exemplo: TElevisão é uma concessão pública, utiliza o ar, assim como o rádio, para transmitir. Na lei é necessário haver uma concessão pública. Nossos (lá deles!!!) políticos concedem este poder de comunicação a interesses privados que focam na sociedade de consumo e corroboram constantemente com uma sabotagem educacional do povo, utilizando o bloqueio do desenvolvimento da racionalidade pertinente à escolarização. 


Voltando à arte do palhaço: ocupar um espaço público, sendo nós mesmos, assumindo o lugar do ridículo, nos relacionando com as pessoas a partir da nossa espontaneidade e do nosso coração, em detrimento das máscaras sócio-comportamentais ditadas pela razão avassaladora, é hiperevolucionário. A realidade na verdadeira realidade não está posta!!! Está sendo postada, constantemente. Adotar a ocupação de um espaço público através da arte, deixando que ela faça a mediação das nossas relações 
sociais é um verdadeiro salto quântico. Rua das Artes Encontro de Circo é este lugar, porém, mantenhamos o pensamento: se esses princípios não se perpetuarem no nosso cotidiano estará sendo postada uma retração do salto quântico.Aí devemos nos voltar para compreender o que significa o MAR de Palhaços.


O Rua das Artes é o lugar que nós, artistas de rua, encontramos para fortalecer nossos afazeres artísticos. É um MAR de água doce que encontramos no meio do deserto. Ele ajuda, estimula, recruta novos guerreiros para arejar um movimento que vem acontecendo cotidianamente cujo princípio é : viver da arte é possível!!


Mas o que é viver da arte? É se alimentar dela, ganhar dinheiro mesmo, mas é só isso? Não, porque não só de pão vivemos não é? Precisamos nos alimentar de nós mesmos, nos retroalimentar com nossos próprios sonhos, nosso autênticos sonhos, partindo de nossas pulsações interiores. Precisamos mesmo mais do que ganhar dinheiro, ganhar a nós mesmos!!!Tivemos nossa infância roubada. Nos afastaram de nós e nos disseram que somos seres racionais porque criaram uma razão de existência artificial para que estejamos constantemente alimentando a um sistema que nos suga e nos faz acreditar que dependemos dele.


Convidamos a tod@s: se integrem, procurem saber, venham somar e multiplicar o MAR de Palhaços. Somos um movimento em plena expansão, de formação, emancipação, libertação, comunhão, amigão, comer pão, também feijão. Comer com fome é bem melhor, 
principalmente quando descobrimos que podemos criar nosso prato, mais do que escolher dentre os velhos cardápios.



Links de referências inspiratórias:


quinta-feira, 5 de julho de 2012

Rua das Artes em 3 de julho de 2012

Por Igor Sant'Anna Caxambó - Cia Pé na Terra www.penaterradospalhacos.blogspot.com


Com grande satisfação o Rua das Artes -Encontro de Circo vem acontecendo de vento em polpa. No dia 3 de julho de 2012 , tivemos uma grande e qualificada quantidade de pessoas, treinando, trocando, se divertindo, exercendo arte, na rua, no espaço público, no Campo Grande. O Rua das Artes é um encontro de circo na rua afim de dinamizar a formação de artistas e companhias que possam integrar ao MAR* de Palhaços (*Movimento Abre-Rodas de Palhaços) que avassala a cidade de Salvador. Para nadar nesse mar é necessário estar conscientemente conectado ao grande propósito do MAR e seguir suas ondas, surfar para o infinito, perpetuando nossa relação com o território, do artista com o território. 


Estamos constantemente sendo desterritorializados (HASBAERT, 2009) por um movimento globalizado que transforma tudo em mercadoria, enfraquece a vida pública e nos impele a uma reorganização constante impelida por diferentes partes integrantes da sociedade. Esse processo que envolve certos conflitos gera uma multiplicidade de interações entre as pessoas no território o que envolve diferentes e diversas relações internas na sociedade e desta com a natureza. Dentro desta interação está o poder político, está também os interesses econômicos, os impactos ambientais...



O que entendo por desterritorialização colocada por Hasbaert é que os grupos humanos estão em constante processo de se territorializar e em certos aspectos isso gera resistência a territorializações que caminham para se hegemonizar. Esses movimentos hegemônicos criam determinadas desterritorializações porém a resistência cotidiana gera novas territorializações...Neste ínterim surge um MAR de Palhaços, um encontro como Rua das Artes, formando uma Zona Autônoma Temporária (Hakim Bey) cujos parâmetros de relações sociais com o espaço são ressignificados. Mas este é um espaço de formação, digamos, de fortalecer nossos espíritos para agir contra a coação sistemática das forças neo-liberais hegemonizadoras, E ENTÃO O QUE ESPERAMOS ALCANÇAR COM ISSO? QUAL O PROPÓSITO VERDADEIRO?



O propósito verdadeiro do Rua das Artes, está na sua raiz: O MAR de Palhaços. Vem fazendo parte deste movimento, por enquanto, dois grupos, a Cia Obcena de Artes e a Cia Pé na Terra. Nós temos estabelecido nosso movimento de arte de rua, com palhaçaria, formando pontos de roda, criando cultura de artista de rua. Se formos pra Europa podemos  ver em alguns países que falta espaço pra tanto artista. Por que aqui essa falta de reconhecimento? Sentimos uma dor profunda ao ver alguns artistas passando necessidade, ou atendendo telefone, ou se integrando a um cargo executivo qualquer porque acha que não se pode viver da arte na cidade de Salvador? E

Existe um Ethos na nossa sociedade brasileira, ou mais especificamente, soteropolitana, de que ser artista é não ser digno, mas nós do MAR dizemos que ser artista é ter qualidade de vida, é obedecer aos impulsos de nossos corações, é não abrir mão da nossa autenticidade, da nossa liberdade de sermos quem somos. É um ato de intento inflexível, de caminhar para um propósito, de sabermos qual é nossa missão nesse planeta adoecido pelas estapafúrdias idiotices humanas. De estabelecermos nossa emancipação diante da ignorância das infinitas possibilidades de re-qualificação das relações sociais e de desenvolvimento humano no território.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Rua das Artes em 26 de junho de 2012


!


bjo


Paspalhos queridos, que lindo ver o encontro hoje no campo grande!
Tive que sair mais cedo, e fui com uma sensação tão boa!
Fico muito feliz com o movimento!
Até terça.
bjo
Naia Prata


        • Larissa Uerba foi massa mesmo! pois continuemos firmes e fortes. \o/
          há 13 horas ·  · 1
        • Priscila Sodré que massa! Não pude ir ontem mas estarei semana que vem, vou levar minhas bolinhas pra brincar com vocês. ;) beijão
          há 5 horas ·  · 1

        • Igor Sant'Anna foi lindo galera. A função da arte é transformação, mais ainda, tansmutação. E essa foi a função pra gente. Se encontrar, exercitar nossa generosidade, fortalecer nossa presença viva, alegre festiva e focada no constante aprendizado espiritual. Agradeço a to@s que apareceram e deram sua energia para possibilitar essa Zona Autônoma Temporária. Me senti com minha família aconchegado.abração

          há 2 horas ·  · 3

        • João Pedro Matos terça tô lá!
          há ± 1 hora ·  · 1

      • Galera, parabéns a todos nós!!!
        Nosso encontro 'Rua das Artes - Encontro de Circo" foi formidável. acredito que desconhecemos o poder do que realizamos e a dimensão do seu alcance. foi apenas o primeiro dia e aconteceu do modo mais lindo, justamente como foi idealizado. Palhaç@s brincando e cantando, músicos tocando e puxando danças e cortejos, muitos malabares para o alto, todos nós aprendendo juntos com muito amor e generosidade.
        agora é continuar, pois a semente nós plantamos!
        Que venham os próximos encontros!!!

        Lembrando: É Semanal!!! uhuhuhuh

        Amanhã postarei fts, mas por favor, quem tiver compartilhem conosco!

        Bjos nos corações