domingo, 26 de agosto de 2012

A dor e o prazer em ser palhaço: uma questão de atitude.

*Por Igor Caxambó (Cia Pé na Terra)



Rua das Artes Encontro de Circo é, como o próprio nome revela, um encontro que envolve arte circense e arte de rua, tudo ao mesmo tempo.  Este encontro é organizado pelo MAR de Palhaços, um movimento que engloba vários palhaços independentes e representantes de grupos. Mas, logo de saída, por que um encontro de circo, organizado por um movimento de palhaços?

Venho aqui falar de princípios. Em primeiro lugar, um princípio do artista denominado palhaço, é a versatilidade artística, o que casa perfeitamente com a versatilidade exigida pelo cotidiano do artista de rua.  Em segundo lugar, o princípio essencial do Rua das Artes Encontro de Circo está na história de seu surgimento: Palhaços que passaram a se encontrar para exercício e capacitação crescente da nossa função, que tem sido a de palhaço de rua, o que por sua vez exige um busca por excelência artística dentro da diversidade típica das artes circenses e principalmente na história do palhaço.

Buscando humildemente crescer nos nossos fazeres artísticos, também precisávamos de um encontro permanente para nos vermos, elaborarmos, movimentarmos e exercitarmos nossa generosidade de palhaço. Enfim para podermos exercer nossa função de amar e nos fortalecer, gerar espaço de trocas e qualificação.

Nos fortalecer significa que para viver com o prazer a que nos propomos é exigido de nós um esforço extra em relação à nossa atitude energética diante da vida. Precisamos ter a disposição de um guerreiro para não sucumbir diante das dificuldades. Dizem que para viver de arte aqui no Brasil tem que estar preparado para abnegação. Mas abnegação de quê? Respondo logo: de um modo de vida baseado na espetacularização da sociedade, ou seja, da mercantilização do cotidiano que significa a banalização da sociedade de consumo.

 Na realidade abnegação, se é que existe, vem antes, não como um esforço, mas como algo natural de quem se conscientizou de como é superficial e infeliz toda nossa relação social baseada no consumo, no "ter" ao invés do "ser" , no eterno desejo e nunca no prazer e satisfação. Como nossas relações sociais estão poluídas com idéias ilusórias de quem realmente somos!!!

O palhaço é uma exposição da nossa essência , sem criação de máscaras sócio-comportamentais. Para isso é preciso coragem, a coragem de se arriscar, de se jogar para vivenciar o prazer da plena presença, mas correndo o risco de vivenciar a dor de estar presente, enfrentar a insistência da ausência do outro.

Nós um dia optamos sair desse marasmo: casa – shopping- escola ou: Casa – trabalho – bar. Muitas pessoas vivem hoje a segurança em detrimento da própria liberdade. Tudo bem que uma pessoa queira uma determinada estabilidade financeira, um mínimo de conforto e segurança para si e sua família. A questão é que a sociedade em geral ( e olhe que não estou dizendo TOTAL), está engessada na sua própria segurança, autodefesa e acomodação. Pobres, pobres, pobres!!! Com medo de arriscar-se não compreendem nem a sujeira do canto da unha do dedo mindinho do pé esquerdo do que estão realmente perdendo. 

Através da atitude de encarar uma batalha e desafios, nós artistas -palhaços enfrentamos a morte a cada dia, porque a cada dia observamos nossas transformações dizendo adeus aos nossos antigos vícios. Cada vez que arriscamos nos doar generosamente para um público, ou enfrentar um palco aberto, estamos colocando nossa dignidade à prova. Temos que empenhar uma energia para sairmos vivos e se sairmos...ah!!!E se sairmos!!! Saimos outros totalmente diferentes.

 A cada morte, um renascimento. Nossa essência vai assim rompendo as cascas que nossa educação escolarizada criou na nossa corporeidade. PAssamos a compreender que o natural é sentir dor e prazer e que ISSO É VIVER!ISSO É NATURAL!!!Como fomos afastados de nós mesmos! Pra retornarmos pode não ser fácil, mas pode ser também, é uma questão de atitude.


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