quinta-feira, 19 de julho de 2012

OLHAR DE PALHAÇO


A cada terça-feira que chega passamos a nos surpreender ainda mais com esse poder humano que acessamos nesta empreitada que tem sido o Rua das Artes Encontro de Circo. Neste dia 17 de julho de 2012 foi muito lindo de ver as atividades acontecendo espontaneamente pela praça do Campo Grande, numa plena terça-feira, dando cor ao espaço e ao tempo, através da união de nossas energias e intentos artísticos. No mínimo houve palco aberto com belíssimas apresentações, recital de poesia, treino de malabarismos diversos, oficina de bastão, oficina de perna-de –pau e a oficina o “Olhar do palhaço”, a partir da qual pretendo refletir aqui sobre o Rua das Artes Encontro de Circo e o MAR de Palhaços.

Há algum tempo a arte do palhaço vem ganhando força em Salvador e os que têm mantido seu intento vivo e inflexível para fortalecer cada vez mais a existência dessa arte, tem também experimentado um prêmio esplêndido. Vivenciar a arte do palhaço é mudar nossa forma de ver o mundo. O olhar do palhaço está repleto de vida, como o olhar de um guerreiro que desafia os ditames da morte. Mais do que isso, nós palhaços aprendemos a enxergar que precisamos desafiar nossos limites, nos entregando a eles, denunciando eles para o mundo, aceitando-nos. O Olhar do palhaço é o olhar de uma paixão, a paixão pela vida, pela existência, pela presença...

Conectar-se com as pessoas através desse olhar muda toda a perspectiva e determinação da construção energética dos sucessivos momentos. Estar presente, inteiro, integral, oferecendo sua alma para que as pessoas possam beber de uma troca humana cheia de espirituosidade e inocência é pura generosidade. Dar do que temos nunca poderá valer mais do que dar do que somos. Estar receptivo e alerta, com atenção a nossos semelhantes é uma ato de coragem inestimável e com certeza gera uma transmutação naqueles que se arriscam a seguir essa vereda.

Mas conectar-se cenicamente não é somente uma ato passageiro de prazer, é um exercício que detona espasmos de consciência cotidiana e uma série de reflexões inevitáveis e profundas sobre nossas relações sociais e como elas vêm se concebendo na contemporaneidade. Como a mesquinhez vem dominando as relações econômicas historicamente e como isso vem afetando o cotidiano das pessoas está materializado na configuração de nossos espaços públicos. A configuração envolve não somente sua estruturação física, mas a dinâmica de seu uso. O Rua das Artes Encontro de Circo vem cumprindo bem, a meu ver, um papel hiperevolucionário de transformar o uso do espaço. Aliás esse é o papel que há muito o MAR de palhaços vem cumprindo há um tempo em Salvador. Transformar o uso do espaço através da criação de uma Zona Autônoma Temporária, de tal maneira que isso marque permanentemente a memória do espaço.


Tem sido muito bom participar do Rua das Artes e, com meu olhar de palhaço poder assistir as pessoas que se entretinham nesta jornada a jornada da construção de um espaço melhor, de uma cidade melhor e de um mundo melhor...e por que não?!!!!!!

Igor Sant'Anna Caxambó

Um comentário:

  1. Essa "Zona Autônoma Temporária" é importante. Legal levar o pessoal pro buzu, pra sinaleira, enfim, mostrar que os artistas podem, sim, viver dignamente.

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