A cada terça-feira que chega
passamos a nos surpreender ainda mais com esse poder humano que acessamos nesta
empreitada que tem sido o Rua das Artes Encontro de Circo. Neste dia 17 de
julho de 2012 foi muito lindo de ver as atividades acontecendo espontaneamente
pela praça do Campo Grande, numa plena terça-feira, dando cor ao espaço e ao
tempo, através da união de nossas energias e intentos artísticos. No mínimo
houve palco aberto com belíssimas apresentações, recital de poesia, treino de
malabarismos diversos, oficina de bastão, oficina de perna-de –pau e a oficina
o “Olhar do palhaço”, a partir da qual pretendo refletir aqui sobre o Rua das
Artes Encontro de Circo e o MAR de Palhaços.
Há algum tempo a arte do palhaço
vem ganhando força em Salvador e os que têm mantido seu intento vivo e
inflexível para fortalecer cada vez mais a existência dessa arte, tem também
experimentado um prêmio esplêndido. Vivenciar a arte do palhaço é mudar nossa
forma de ver o mundo. O olhar do palhaço está repleto de vida, como o olhar de
um guerreiro que desafia os ditames da morte. Mais do que isso, nós palhaços
aprendemos a enxergar que precisamos desafiar nossos limites, nos entregando a
eles, denunciando eles para o mundo, aceitando-nos. O Olhar do palhaço é o
olhar de uma paixão, a paixão pela vida, pela existência, pela presença...
Conectar-se com as pessoas
através desse olhar muda toda a perspectiva e determinação da construção
energética dos sucessivos momentos. Estar presente, inteiro, integral,
oferecendo sua alma para que as pessoas possam beber de uma troca humana cheia
de espirituosidade e inocência é pura generosidade. Dar do que temos nunca
poderá valer mais do que dar do que somos. Estar receptivo e alerta, com
atenção a nossos semelhantes é uma ato de coragem inestimável e com certeza
gera uma transmutação naqueles que se arriscam a seguir essa vereda.
Mas conectar-se cenicamente não é
somente uma ato passageiro de prazer, é um exercício que detona espasmos de
consciência cotidiana e uma série de reflexões inevitáveis e profundas sobre
nossas relações sociais e como elas vêm se concebendo na contemporaneidade.
Como a mesquinhez vem dominando as relações econômicas historicamente e como
isso vem afetando o cotidiano das pessoas está materializado na configuração de
nossos espaços públicos. A configuração envolve não somente sua estruturação
física, mas a dinâmica de seu uso. O Rua das Artes Encontro de Circo vem
cumprindo bem, a meu ver, um papel hiperevolucionário de transformar o uso do
espaço. Aliás esse é o papel que há muito o MAR de palhaços vem cumprindo há um
tempo em Salvador. Transformar o uso do espaço através da criação de uma Zona
Autônoma Temporária, de tal maneira que isso marque permanentemente a memória
do espaço.
Tem sido muito bom participar do
Rua das Artes e, com meu olhar de palhaço poder assistir as pessoas que se entretinham
nesta jornada a jornada da construção de um espaço melhor, de uma cidade melhor
e de um mundo melhor...e por que não?!!!!!!
Igor Sant'Anna Caxambó
*MAIS FOTOS EM http://www.facebook.com/groups/254775797970180/photos/
Essa "Zona Autônoma Temporária" é importante. Legal levar o pessoal pro buzu, pra sinaleira, enfim, mostrar que os artistas podem, sim, viver dignamente.
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