O MAR de Palhaços é quando buscamos nos unir ao céu no horizonte rompendo nossos limites através da união de cias, grupos, coletivos e artistas independentes que buscam fortalecer a cultura de arte de rua, fomentado a arte do palhaço como estratégia de emancipação política, social, filosófica e espiritual, a fim de romper com os moldes hegemônicos e padrões do sistema neo-capitalista.
segunda-feira, 26 de novembro de 2012
sexta-feira, 5 de outubro de 2012
um domingo no parque
*Por Ale Carvalho
Domingo passado no Parque de Pituaçu aconteceu o espetáculo do Grão de Circo Pé na Terra. Como o quiosque estava ocupado com um evento, nós fomos cortejando de lá até a frente do parque chamando as pessoas a participarem do espetáculo. Já nessa hora, rolou uma conexão maravilhosa de amor e alegria entre a cia e o público, o que é super válido, já que o caminho do palhaço remete a conexão de almas a partir dos olhos, na minha singela opinião esse um caminho para a mesma.
Domingo passado no Parque de Pituaçu aconteceu o espetáculo do Grão de Circo Pé na Terra. Como o quiosque estava ocupado com um evento, nós fomos cortejando de lá até a frente do parque chamando as pessoas a participarem do espetáculo. Já nessa hora, rolou uma conexão maravilhosa de amor e alegria entre a cia e o público, o que é super válido, já que o caminho do palhaço remete a conexão de almas a partir dos olhos, na minha singela opinião esse um caminho para a mesma.
Adultos, crianças e crionças fizeram questão de levar os pés no coração, e quando paramos no local escolhido para ser o do espetáculo, o arrastão que nos seguiu já havia se tornado uma multidão ansiosa. Sim, mas o público é como um jardim e precisa ser regado para não morrer. Isso ficou a cargo da música e principalmente das brincadeiras dos palhaços Zédispeto e Caxambó, o branco e o augusto na cena. Os corações das pessoas iam aos olhos de tão brilhantes e as palmas foram se tornando cada vez mais constantes.
Os transeuntes paravam só para ver o que eram aqueles bichos esquisitos fazendo esquisitices e eram envolvidos por aquela esfera de amor. Os dois palhaços continuaram a apresentação, dessa vez com malabares. Foi lindo também, e engraçado demais. Nessa hora o público já ia ao delírio. As crianças e os seus pais se divertiam como se fossem todos da mesma idade.
Pronto, a palhaça Didi Siriguela invadiu a cena para um amistoso pingue-ponge de piolho com o seu companheiro caxambó. Depois de muitas piolhadas, e cada vez mais gente agregando a roda, aconteceu algo magnífico.
O quê? A mágica. Oh! Mágica? Sim. Isso mesmo. O mágico Coringa deixou todos perplexos com dois números incríveis. Em seguida, em meio a muita música, Caxambó e Zédispeto voltaram a cena, dessa vez com um número clássico, o abelha-abelhinha, com direito a mel na boquinha e tudo.
E quase pra finalizar, foi passado o chapeu, que mais que uma tradição é um ato político. Houve o número de finalização, maravilhoso como os outros, o que ficou refletido nos olhares e sorrisos do público, um jardim agora repleto de rosas de todas as cores, gardênias, girassóis e cravos, pois naquela hora contada de espetaculo, um ínfimo se comparado as horas de suas semanas como pessoas "normais" esses seres tiveram a felicidade de ter as almas regadas pelo amor dos palhaços e artistas presentes no local.
Com certeza em suas semanas e para sempre lembrarão daquele acontecimento apoteótico como eu lembro do brilho de cada um daqueles olhares nos amando. Nada é por acaso e aquele encontro também não foi, afinal, também fomos e somos regados. A cada pequena ação como essa a realidade muda um pouco na vida das pessoas e no mundo. Somos transformadores. Eu sou, você é. O primeiro passo é acreditar.
domingo, 26 de agosto de 2012
A dor e o prazer em ser palhaço: uma questão de atitude.
*Por Igor Caxambó (Cia Pé na Terra)
Rua das Artes Encontro de Circo é, como o próprio nome revela, um encontro que envolve arte circense e arte de rua, tudo ao mesmo tempo. Este encontro é organizado pelo MAR de Palhaços, um movimento que engloba vários palhaços independentes e representantes de grupos. Mas, logo de saída, por que um encontro de circo, organizado por um movimento de palhaços?
Rua das Artes Encontro de Circo é, como o próprio nome revela, um encontro que envolve arte circense e arte de rua, tudo ao mesmo tempo. Este encontro é organizado pelo MAR de Palhaços, um movimento que engloba vários palhaços independentes e representantes de grupos. Mas, logo de saída, por que um encontro de circo, organizado por um movimento de palhaços?
Venho aqui falar de princípios. Em primeiro lugar, um
princípio do artista denominado palhaço, é a versatilidade artística, o que
casa perfeitamente com a versatilidade exigida pelo cotidiano do artista de
rua. Em segundo lugar, o princípio
essencial do Rua das Artes Encontro de Circo está na história de seu surgimento:
Palhaços que passaram a se encontrar para exercício e capacitação crescente da
nossa função, que tem sido a de palhaço de rua, o que por sua vez exige um busca por
excelência artística dentro da diversidade típica das artes circenses e
principalmente na história do palhaço.
Buscando humildemente crescer nos nossos fazeres artísticos,
também precisávamos de um encontro permanente para nos vermos, elaborarmos,
movimentarmos e exercitarmos nossa generosidade de palhaço. Enfim para podermos
exercer nossa função de amar e nos fortalecer, gerar espaço de trocas e
qualificação.
Nos fortalecer significa que para viver com o prazer a que
nos propomos é exigido de nós um esforço extra em relação à nossa atitude energética diante da vida. Precisamos ter a disposição de um guerreiro para não sucumbir diante das dificuldades. Dizem que para viver de arte aqui no Brasil tem que estar preparado para abnegação. Mas abnegação de quê? Respondo logo: de um modo de vida baseado na espetacularização da sociedade, ou seja, da mercantilização do cotidiano que significa a banalização da sociedade de consumo.
Na realidade abnegação, se é que existe, vem antes, não como um esforço, mas como algo natural de quem se conscientizou de como é superficial e infeliz toda nossa relação social baseada no consumo, no "ter" ao invés do "ser" , no eterno desejo e nunca no prazer e satisfação. Como nossas relações sociais estão poluídas com idéias ilusórias de quem realmente somos!!!
O palhaço é uma exposição da
nossa essência , sem criação de máscaras sócio-comportamentais. Para isso é
preciso coragem, a coragem de se arriscar, de se jogar para vivenciar o prazer da plena presença, mas correndo o risco de vivenciar a dor de estar presente, enfrentar a insistência da ausência do outro.
Nós um dia optamos sair desse marasmo: casa – shopping-
escola ou: Casa – trabalho – bar. Muitas pessoas vivem hoje a segurança em
detrimento da própria liberdade. Tudo bem que uma pessoa queira uma determinada
estabilidade financeira, um mínimo de conforto e segurança para si e sua
família. A questão é que a sociedade em geral ( e olhe que não estou dizendo
TOTAL), está engessada na sua própria segurança, autodefesa e acomodação. Pobres, pobres, pobres!!! Com medo de arriscar-se não compreendem nem a sujeira do canto da unha do dedo mindinho do pé esquerdo do que estão realmente perdendo.
Através da atitude de encarar uma batalha e desafios, nós artistas -palhaços enfrentamos a morte a cada dia, porque a cada dia observamos nossas transformações dizendo adeus aos nossos antigos vícios. Cada vez que arriscamos nos doar generosamente para um público, ou enfrentar um palco aberto, estamos colocando nossa dignidade à prova. Temos que empenhar uma energia para sairmos vivos e se sairmos...ah!!!E se sairmos!!! Saimos outros totalmente diferentes.
A cada morte, um renascimento. Nossa essência vai assim rompendo as cascas que nossa educação escolarizada criou na nossa corporeidade. PAssamos a compreender que o natural é sentir dor e prazer e que ISSO É VIVER!ISSO É NATURAL!!!Como fomos afastados de nós mesmos! Pra retornarmos pode não ser fácil, mas pode ser também, é uma questão de atitude.
sábado, 4 de agosto de 2012
MAR DE PALHAÇOS: ARTE DE RUA COMO UM ATO POLÍTICO DE ECONOMIA SOLIDÁRIA
* Por Igor Caxambó
(em comemoração aos 5 anos de Cia. Pé na Terra http://www.penaterradospalhacos.blogspot.com.br/)
(em comemoração aos 5 anos de Cia. Pé na Terra http://www.penaterradospalhacos.blogspot.com.br/)
MAR DE PALHAÇOS: UM POUCO DE HISTÓRIA
O
MAR de Palhaços surgiu como um movimento tanto de formação e fomento a palhaços
de rua, quanto de fortalecimento e recriação de pontos permanentes de encontro
entre artistas e público. As práticas sempre se pautaram em princípios da educação
libertadora (Paulo Freire). Antes de ler e escrever, o método Paulo Freire
explicita a importância de aprender a ler o mundo. E nosso intuito é fincar
nossa consciência através da libertação do olhar de um palhaço.(vide artigo
anterior em http://www.mardepalhacos.blogspot.com.br/2012/07/olhar-de-palhaco.html)
Nossa preocupação com a sustentabilidade do artista DE rua está relacionada com a perpetuação desta arte NA rua. Que tipo de transformação isso pode causar na sociedade? Como essa ação constante e cotidiana pode gerar modificações no uso do território? Venho relembrar a história de formação da MAR de Palhaços que pode ser constantemente revisada nos arquivos deste nosso blog. O Movimento em si surgiu pela união inicial de ideias e práticas compactuadas por duas companhias: A Cia Pé na Terra e a Cia Obcena de Artes. O primeiro ponto do MAR de Palhaços, onde tudo começou, foi o Parque de Pituaçu e os princípios do movimento já eram praticados desde 2009, quando nós da Cia Pé na Terra iniciamos nosso trabalho de ocupação do parque e criação de uma cultura local de apresentações de rua. Nas palavras de nosso irmão Sabiá
No domingo dia 09 de maio de
2010, Caxambó, que ocupa já há bastante tempo o parque de Pituaçu, convidou
diversos palhaços para participarem da sua roda, às 10h.
O intuito foi o de aproximar
os palhaços primeiramente, alguns mais iniciantes com outros com um pouco mais
de prática e experiência [...]
(fragmento de relato feito em 23 de maio de 2010. Link
http://www.mardepalhacos.blogspot.com.br/p/de-2010.html)
Isso
não quer dizer que nós somos os Pré-Deuses que criaram a história dos
dinossauros não (auhauhauah). Trago essa história para pensarmos onde nossas
ações de generosidade podem nos levar e denuncio (como palhaço que sou) que mais
do que exercer a generosidade do palhaço, uma prática espiritual que tentamos
levar para o cotidiano de nossas relações sociais, pensávamos em nós mesmos, nessa
nossa liberdade de viver da nossa arte, de fortalecer esse movimento impulsionado
pelo chapéu, que cresce na medida em que outros façam isso também.
Ora,
a Cia Pé na Terra comemora 5 anos de existência agora em agosto, sendo desses,
são 4 anos de ação no Parque de Pituaçu e 2 anos de MAR de Palhaços, quando
passamos a sistematizar esse princípios dentro de um movimento maior , em
parceria com outra cia, a Obcena de
Artes, e abrindo rodas em um sentido
duplo 1)roda de público, aquela que já fazíamos e 2)abrindo nossas rodas para
que outros palhaços aproximassem-se para a partir de uma prática em conjunto
criando um sistema de aprendizagem e profissionalização. Nas palavras de Sabiá de novo, em maio de 2010:
Em Pituaçu já existe uma cultura de roda de palhaço aos
domingo, esta foi construida ao longo de alguns anos de insistência pela Cia Pé
na Terra (Caxambó e Didi Siriguela), mais especificamente falando em se
tratando desta roda no Parque de Pituaçu.
hj, em salvador temos rodas em Pituaçu (
Pé na Terra, domingo de manhã), praça do Campo do Campo Grande e Praça Ana
Lúcia Magalhaes/Pituba (Nariz de Cogumelo, domingo a tarde e sábado a tarde),
em Estela Mares(Malabres Màgicos, não sei o dia certo).
Salvador tem muito mais bairros, ainda ocupamos pouco, ainda levamos pouco a nossa cultura, educamos pouco a nossa
sociedade com a arte de rua. em qualquer periferia, as pessoas gastam seu dinheiro em festas e bebidas, o que caracteriza
que não se trata do dinheiro estar só na mão dos que moram nos bairros nobres,
porém, nestes locais, por motivo de acesso a cultura, as pessoas estão mais
habituadas a pagarem pela graça recebida através da arte.
Queremos abrir rodas onde quer que seja,
do bairro nobre à periferia, cada qual em sua realidade e cultura.
RUA DAS ARTES: DESESCOLARIZAÇÃO VERSUS SOCIEDADE DO ESPETÁCULO
O Rua das Artes Encontro de Circo tem sido esse lugar de desconstrução da sociedade do espetáculo, onde nós que estamos realizando arte de rua na cidade nos encontramos para fortalecer nossas práticas, aproximar nossos corações através de uma função coletiva de arte, com trocas, capacitações e aproximação de novos parceiros interessados em seguir cumprindo esse nosso imporatnte papel. Esse é o nosso reduto, onde compartilhamos nossas dores, prazeres, sabores e dissabores.
Segundo Guy
Debord, no livro A sociedade do espetáculo
vivemos numa realidade, resultado e projeto do modo de produção existente, cujas
relações sociais são mediatizadas por imagens que geram uma visão cristalizada
do mundo, o foco do olhar iludido e da falsa consciência, além de uma ampliação
da distância interior na medida em que suprime a distância geográfica. Nas
palavras dele a unificação que a Sociedade do Espetáculo realiza não é outra
coisa senão “a linguagem oficial da separação generalizada” ou uma “separação
espetacular”.
Assim fica
fácil enxergarmos por que é muito comum vivermos num modelo social de “afirmação
da aparência e a afirmação de toda a vida humana, socialmente falando, como
simples aparência” ou seja, o modelo de dominação da economia sobre a vida
social prioriza o ter e o parecer em detrimento do ser, que gera uma comunicação de mão única produzindo
“verdades universais”, inquestionáveis que deve ser aceitas passivamente:
A
alienação do espectador em proveito do objeto contemplado (que é o resultado da
sua própria atividade inconsciente) exprime-se assim: quanto mais ele
contempla, menos vive; quanto mais aceita reconhecer-se nas imagens dominantes
da necessidade, menos ele compreende a sua própria existência e o seu próprio
desejo. A exterioridade do espetáculo em relação ao homem que age aparece
nisto, os seus próprios gestos já não são seus, mas de um outro que lhos
apresenta.
Imaginemos
que neste tipo de contexto aparecem pessoas que pintam seu rosto, colocam o
nariz vermelho e se vestem de uma maneira que expõe seu próprio ridículo a fim
de realizar trocas humanas, fomentar emoções, gerar conexões transgressoras
para o território. Ser palhaço é um caminho de auto-conhecimento, de auto-cura,
de conectar aos próprios desejos reais. Poderíamos dizer que essa busca do ser palhaço é altamente anti-espetacular,
porque ela fortalece o ser reduzindo
o ter a uma piada reflexiva, ou no caso
do artista de rua, a um fluxo energético que passa pelo chapéu e sustenta a
empreitada da busca pelo ser.
Hoje
o MAR de palhaços se configura por pessoas que um dia se apaixonaram por essa arte e se empenharam a levá-la para
rua. A graça, a cura, o riso, as lágrimas, a auto-exposição, a denúncia
verdadeira de quem somos através da dilatação dos nossos próprios erros. Costumo
sempre dizer que 4 paredes são limites muito estreitos para um palhaço e que o
lugar dele mesmo é na rua.
Mas
não pense que tem sido fácil. Somos desbravadores desta selva de pedras, porque
o modelo de ideias cristalizadas comentado por Guy Debord procura não permitir
que sejamos livres. Enfrentamos preconceitos e uma cultura mediatizada por
imagens espetacularizadas. Até dentro do próprio meio artístico convencional
aparece aqueles que menosprezam a ideia da arte de rua e consideram-na como
algo menor. A função do Rua das Artes Encontro de Circo, tem sido a de destruir
essa relação espetacularizada com a arte abrindo canais de acesso onde os
fazeres artísticos são processos formativos. A educação e arte juntos
destruindo bases que fundam a sociedade do espetáculo.
A
passividade que a sociedade do espetáculo constrói está na base da reprodução
social de nossa existência, como uma doença que começou escondida na raiz e
atinge um fruto de uma árvore. Mas que raiz é essa que estamos falando? Onde
está o poder de reprodução social da cultura da sociedade do espetáculo como
produção inconsciente da consciência espetacular dos nossos dias? Estou falando
da educação. O modelo educacional conectado a essa sociedade do espetáculo está
relacionado ao modelo de escolarização a que todos somos submetidos desde
crianças, quando nossas vontades são ainda frágeis e nossa consciência é
dobrável aos ditames do mundo adulto. Esta escolarização crescente nos faz
desconectar da nossa potência de vida tornando nossa vida e nosso acesso ao
conhecimento algo passivo e destituído de atitude política.
Para finalizar deixo a citação de uma grande amiga, Ana
Thomaz (http://www.anathomaz.blogspot.com.br/), que um dia resolveu seguir pelos caminhos da desescolarização e vem
sendo fonte de inspiração para a Cia. Pé na Terra e essa idéia que nos faz trilhar pelo MAR de Palhaços de que o simples fato de termos escolhido viver da arte, é uma ato político:
A quem estamos
remetendo a responsabilidade dos nossos modos de vida?
De onde veio a ideia que a realidade está pronta e que precisamos aprender a fazer parte dela??
Onde aprendemos a sentir tanto medo do aqui e agora??? Eu acredito ter aprendido tudo isso e muito mais (competitividade, comparação, julgamento, especulação, ser carreirista, a desconexão corpo/mente...) na escola, e se não foi na escola, certamente foi la que por muito tempo pratiquei esse modo de vida.
para mim o problema central da escolarização é que além de praticar todos esses conceitos que citei acima, os alunos estão a serviço das aulas, da programação pedagógica, do conhecimento, dos conceitos; fazendo com que os alunos se afastem cada vez mais de si mesmos e seus desejos, a ponto de ser necessário fazer um teste vocacional para saber em que área vai render melhor, a serviço de um sistema que precisa continuar a ser alimentado para existir.
De onde veio a ideia que a realidade está pronta e que precisamos aprender a fazer parte dela??
Onde aprendemos a sentir tanto medo do aqui e agora??? Eu acredito ter aprendido tudo isso e muito mais (competitividade, comparação, julgamento, especulação, ser carreirista, a desconexão corpo/mente...) na escola, e se não foi na escola, certamente foi la que por muito tempo pratiquei esse modo de vida.
para mim o problema central da escolarização é que além de praticar todos esses conceitos que citei acima, os alunos estão a serviço das aulas, da programação pedagógica, do conhecimento, dos conceitos; fazendo com que os alunos se afastem cada vez mais de si mesmos e seus desejos, a ponto de ser necessário fazer um teste vocacional para saber em que área vai render melhor, a serviço de um sistema que precisa continuar a ser alimentado para existir.
sexta-feira, 27 de julho de 2012
Rua das Artes: um MAR de saúde e anarquia
*Por Igor Caxambó (www.penaterradospalhacos.blogspot.com)
O que torna ou caracteriza o uso do espaço é o seu
uso. Intensificar o uso público do espaço é um dos objetivos do MAR de
Palhaços. Mas não é somente isso. Nosso objetivo é fortalecer nossa prática de
arte de rua que é intrinsecamente pública, com a consciência de que nossa arte,
para continuar existindo e se fortalecendo, precisa de espaços públicos bem
servidos dos elementos principais que o caracterizam como públicos: as pessoas.
O poder da arte de rua é de agregar as pessoas, acalentar espíritos, tornar o
entretenimento algo realmente importante no sórdido cotidiano produtivista
deste sistema em que vivemos. Dizem que vivemos em um estado de democracia e de
liberdade, mas a verdade é que uma pequena elite de poderosos vive a democracia
entre eles e desfruta da “liberdade” de oprimir através de um sistema de escravidão
assalariada. Através de poderosos discursos ideológicos permanentemente
introjetados na nossa cultura materialista, algumas “verdades” sobre o ato de
fazer arte desconsideram sua importância e relegam-na a algo menor pois afinal,
o que a arte produz de fato? Qual bem material a arte produz? Nenhum,
efetivamente?
Para nós, do
MAR de Palhaços, a arte pode produzir no mínimo liberdade, saúde e
consciência. A capacidade de conexão inter-humana nos faz bater mais forte
nosso coração. Expressar-nos ao ar livre nos faz enxergar coisas que dentro de
quatro paredes servindo a um patrão ou ao Estado nunca seriam enxergadas.
Passamos a pulsar contra os condicionamentos correntes do sistema sobre os
seres humanos e a irradiar energia dentro de um fluxo de possibilidades. Somos
perigosos para o sistema porque não aceitamos o fato dado, a realidade como ela é. Acreditamos que podemos
modificá-la e acreditem, nosso poder de criatividade já a modifica. Não é
revolução, não nos moldes clássicos, mas é anarquia sim! É liberdade ao
extremo, mas não a liberdade burguesa. A liberdade que cultivamos é aquela que
só aumenta quando aumenta a liberdade do outro, pelo simples fato de que quanto
mais livre o outro mais difícil da liberdade acabar. É Hiper-Evolução (não
confundir com Hiper-revolução). A Hiper-evolução se faz com micro-revoluções
cotidianas e essa é a principal característica do Rua das Artes Encontro de
Circo.
No dia 24 de julho de 2012, por exemplo, essa nossa ação
adquiriu mais poder nesse sentido. Nosso camarada Ale, o poeta, já viu a galera
da Dança de Rua fazendo uma função na sinaleira, já convidou a galera pra
aparecer e a galera já deu o ar da graça no nosso encontro. E assim vamos
seguindo, formando aqueles que se interessam em adentrar no mundo da arte de
rua e agregando aqueles que já a praticam. Fica um desafio para todos nós.
Estamos cuidando para que isso se torne sistemático? Que outras
micro-revoluções podem ser acessadas através disso? Como podemos fluir para o
cotidiano? Não esperamos que nenhuma resposta surja de um líder iluminado pelo
farol de seu próprio ego, mas insistimos que esta resposta surja na consciência
geral, através de todos nós e que nossa conexão Hiper-Evolucionária mostre que
dependemos somente da responsabilidade de cada um e da conexão de todos.
quinta-feira, 19 de julho de 2012
OLHAR DE PALHAÇO
A cada terça-feira que chega
passamos a nos surpreender ainda mais com esse poder humano que acessamos nesta
empreitada que tem sido o Rua das Artes Encontro de Circo. Neste dia 17 de
julho de 2012 foi muito lindo de ver as atividades acontecendo espontaneamente
pela praça do Campo Grande, numa plena terça-feira, dando cor ao espaço e ao
tempo, através da união de nossas energias e intentos artísticos. No mínimo
houve palco aberto com belíssimas apresentações, recital de poesia, treino de
malabarismos diversos, oficina de bastão, oficina de perna-de –pau e a oficina
o “Olhar do palhaço”, a partir da qual pretendo refletir aqui sobre o Rua das
Artes Encontro de Circo e o MAR de Palhaços.
Há algum tempo a arte do palhaço
vem ganhando força em Salvador e os que têm mantido seu intento vivo e
inflexível para fortalecer cada vez mais a existência dessa arte, tem também
experimentado um prêmio esplêndido. Vivenciar a arte do palhaço é mudar nossa
forma de ver o mundo. O olhar do palhaço está repleto de vida, como o olhar de
um guerreiro que desafia os ditames da morte. Mais do que isso, nós palhaços
aprendemos a enxergar que precisamos desafiar nossos limites, nos entregando a
eles, denunciando eles para o mundo, aceitando-nos. O Olhar do palhaço é o
olhar de uma paixão, a paixão pela vida, pela existência, pela presença...
Conectar-se com as pessoas
através desse olhar muda toda a perspectiva e determinação da construção
energética dos sucessivos momentos. Estar presente, inteiro, integral,
oferecendo sua alma para que as pessoas possam beber de uma troca humana cheia
de espirituosidade e inocência é pura generosidade. Dar do que temos nunca
poderá valer mais do que dar do que somos. Estar receptivo e alerta, com
atenção a nossos semelhantes é uma ato de coragem inestimável e com certeza
gera uma transmutação naqueles que se arriscam a seguir essa vereda.
Mas conectar-se cenicamente não é
somente uma ato passageiro de prazer, é um exercício que detona espasmos de
consciência cotidiana e uma série de reflexões inevitáveis e profundas sobre
nossas relações sociais e como elas vêm se concebendo na contemporaneidade.
Como a mesquinhez vem dominando as relações econômicas historicamente e como
isso vem afetando o cotidiano das pessoas está materializado na configuração de
nossos espaços públicos. A configuração envolve não somente sua estruturação
física, mas a dinâmica de seu uso. O Rua das Artes Encontro de Circo vem
cumprindo bem, a meu ver, um papel hiperevolucionário de transformar o uso do
espaço. Aliás esse é o papel que há muito o MAR de palhaços vem cumprindo há um
tempo em Salvador. Transformar o uso do espaço através da criação de uma Zona
Autônoma Temporária, de tal maneira que isso marque permanentemente a memória
do espaço.
Tem sido muito bom participar do
Rua das Artes e, com meu olhar de palhaço poder assistir as pessoas que se entretinham
nesta jornada a jornada da construção de um espaço melhor, de uma cidade melhor
e de um mundo melhor...e por que não?!!!!!!
Igor Sant'Anna Caxambó
*MAIS FOTOS EM http://www.facebook.com/groups/254775797970180/photos/
quarta-feira, 11 de julho de 2012
Rua das Artes: um MAR de Amor
*fotos por Safira Moreira
Nossa razão está condicionada por um sistema escolar que institucionaliza nossa existência material. Somos praticamente obrigados, pela cultura da escolarização, a escolher viver nos moldes criados por outrem, sem refletir, sem sentir e sem ter tempo de desenvolver nossa subjetividade. Os valores disseminados pela institucionalização do saber, a escola e todo seu sistema educacional, nos impõem um modo de vida baseado no consumismo, do ter em detrimento do ser.
Parece-nos até que essa imposição acontece de maneira sutil, mas não é bem assim. Há um sistema que trabalha através das lacunas da "consciência desatenta", ou seja, estamos desatentos com nós, nosso corpo, nossa emoção, nossa personalidade, nossa individualidade/coletividade. Nossa desatenção conceitualiza essa imposição declarada como sutil, mas não há nada de sutil, a verdade está posta. Precisamos desenvolver nossa subjetividade coletiva, a identidade do nosso tipo de sociedade ou micro-sociedade em que nos instalamos está no caráter dos nossos espaços públicos, na razão e emoção de sua existência.
Parece-nos até que essa imposição acontece de maneira sutil, mas não é bem assim. Há um sistema que trabalha através das lacunas da "consciência desatenta", ou seja, estamos desatentos com nós, nosso corpo, nossa emoção, nossa personalidade, nossa individualidade/coletividade. Nossa desatenção conceitualiza essa imposição declarada como sutil, mas não há nada de sutil, a verdade está posta. Precisamos desenvolver nossa subjetividade coletiva, a identidade do nosso tipo de sociedade ou micro-sociedade em que nos instalamos está no caráter dos nossos espaços públicos, na razão e emoção de sua existência.
A arte do palhaço é arte de enamorar-se da vida. Apaixonar-se pelas pessoas significa deixar que o amor flua através de nós. Alinhar com um estado de consciência em que pese a plena presença, a sensibilidade intuitiva e uma "rebeldia não-revoltosa". Não é um ato de rebeldia mas de abandono. Como abandonar este sistema estando dentro dele? Vivenciá-lo sem cumprir sua cartilha?"Eles" querem que vivamos sem pensar? Antes querem que vivamos sem sentir o que nos é autêntico sentir. Dizem que devemos seguir os caminhos da razão contra os caminhos do coração. Aquele que seguir o caminho de seu coração é considerado um louco!
Mas quem dita os caminhos da razão?
REflexão: o que é esfera pública na sociedade de hoje? Por exemplo: TElevisão é uma concessão pública, utiliza o ar, assim como o rádio, para transmitir. Na lei é necessário haver uma concessão pública. Nossos (lá deles!!!) políticos concedem este poder de comunicação a interesses privados que focam na sociedade de consumo e corroboram constantemente com uma sabotagem educacional do povo, utilizando o bloqueio do desenvolvimento da racionalidade pertinente à escolarização.
Voltando à arte do palhaço: ocupar um espaço público, sendo nós mesmos, assumindo o lugar do ridículo, nos relacionando com as pessoas a partir da nossa espontaneidade e do nosso coração, em detrimento das máscaras sócio-comportamentais ditadas pela razão avassaladora, é hiperevolucionário. A realidade na verdadeira realidade não está posta!!! Está sendo postada, constantemente. Adotar a ocupação de um espaço público através da arte, deixando que ela faça a mediação das nossas relações
sociais é um verdadeiro salto quântico. Rua das Artes Encontro de Circo é este lugar, porém, mantenhamos o pensamento: se esses princípios não se perpetuarem no nosso cotidiano estará sendo postada uma retração do salto quântico.Aí devemos nos voltar para compreender o que significa o MAR de Palhaços.
O Rua das Artes é o lugar que nós, artistas de rua, encontramos para fortalecer nossos afazeres artísticos. É um MAR de água doce que encontramos no meio do deserto. Ele ajuda, estimula, recruta novos guerreiros para arejar um movimento que vem acontecendo cotidianamente cujo princípio é : viver da arte é possível!!
Mas o que é viver da arte? É se alimentar dela, ganhar dinheiro mesmo, mas é só isso? Não, porque não só de pão vivemos não é? Precisamos nos alimentar de nós mesmos, nos retroalimentar com nossos próprios sonhos, nosso autênticos sonhos, partindo de nossas pulsações interiores. Precisamos mesmo mais do que ganhar dinheiro, ganhar a nós mesmos!!!Tivemos nossa infância roubada. Nos afastaram de nós e nos disseram que somos seres racionais porque criaram uma razão de existência artificial para que estejamos constantemente alimentando a um sistema que nos suga e nos faz acreditar que dependemos dele.
Mas o que é viver da arte? É se alimentar dela, ganhar dinheiro mesmo, mas é só isso? Não, porque não só de pão vivemos não é? Precisamos nos alimentar de nós mesmos, nos retroalimentar com nossos próprios sonhos, nosso autênticos sonhos, partindo de nossas pulsações interiores. Precisamos mesmo mais do que ganhar dinheiro, ganhar a nós mesmos!!!Tivemos nossa infância roubada. Nos afastaram de nós e nos disseram que somos seres racionais porque criaram uma razão de existência artificial para que estejamos constantemente alimentando a um sistema que nos suga e nos faz acreditar que dependemos dele.
Convidamos a tod@s: se integrem, procurem saber, venham somar e multiplicar o MAR de Palhaços. Somos um movimento em plena expansão, de formação, emancipação, libertação, comunhão, amigão, comer pão, também feijão. Comer com fome é bem melhor,
principalmente quando descobrimos que podemos criar nosso prato, mais do que escolher dentre os velhos cardápios.
Links de referências inspiratórias:
quinta-feira, 5 de julho de 2012
Rua das Artes em 3 de julho de 2012
Por Igor Sant'Anna Caxambó - Cia Pé na Terra www.penaterradospalhacos.blogspot.com
Com grande satisfação o Rua das Artes -Encontro de Circo vem acontecendo de vento em polpa. No dia 3 de julho de 2012 , tivemos uma grande e qualificada quantidade de pessoas, treinando, trocando, se divertindo, exercendo arte, na rua, no espaço público, no Campo Grande. O Rua das Artes é um encontro de circo na rua afim de dinamizar a formação de artistas e companhias que possam integrar ao MAR* de Palhaços (*Movimento Abre-Rodas de Palhaços) que avassala a cidade de Salvador. Para nadar nesse mar é necessário estar conscientemente conectado ao grande propósito do MAR e seguir suas ondas, surfar para o infinito, perpetuando nossa relação com o território, do artista com o território.
Estamos constantemente sendo desterritorializados (HASBAERT, 2009) por um movimento globalizado que transforma tudo em mercadoria, enfraquece a vida pública e nos impele a uma reorganização constante impelida por diferentes partes integrantes da sociedade. Esse processo que envolve certos conflitos gera uma multiplicidade de interações entre as pessoas no território o que envolve diferentes e diversas relações internas na sociedade e desta com a natureza. Dentro desta interação está o poder político, está também os interesses econômicos, os impactos ambientais...
Com grande satisfação o Rua das Artes -Encontro de Circo vem acontecendo de vento em polpa. No dia 3 de julho de 2012 , tivemos uma grande e qualificada quantidade de pessoas, treinando, trocando, se divertindo, exercendo arte, na rua, no espaço público, no Campo Grande. O Rua das Artes é um encontro de circo na rua afim de dinamizar a formação de artistas e companhias que possam integrar ao MAR* de Palhaços (*Movimento Abre-Rodas de Palhaços) que avassala a cidade de Salvador. Para nadar nesse mar é necessário estar conscientemente conectado ao grande propósito do MAR e seguir suas ondas, surfar para o infinito, perpetuando nossa relação com o território, do artista com o território.
Estamos constantemente sendo desterritorializados (HASBAERT, 2009) por um movimento globalizado que transforma tudo em mercadoria, enfraquece a vida pública e nos impele a uma reorganização constante impelida por diferentes partes integrantes da sociedade. Esse processo que envolve certos conflitos gera uma multiplicidade de interações entre as pessoas no território o que envolve diferentes e diversas relações internas na sociedade e desta com a natureza. Dentro desta interação está o poder político, está também os interesses econômicos, os impactos ambientais...
O que entendo por desterritorialização colocada por Hasbaert é que os grupos humanos estão em constante processo de se territorializar e em certos aspectos isso gera resistência a territorializações que caminham para se hegemonizar. Esses movimentos hegemônicos criam determinadas desterritorializações porém a resistência cotidiana gera novas territorializações...Neste ínterim surge um MAR de Palhaços, um encontro como Rua das Artes, formando uma Zona Autônoma Temporária (Hakim Bey) cujos parâmetros de relações sociais com o espaço são ressignificados. Mas este é um espaço de formação, digamos, de fortalecer nossos espíritos para agir contra a coação sistemática das forças neo-liberais hegemonizadoras, E ENTÃO O QUE ESPERAMOS ALCANÇAR COM ISSO? QUAL O PROPÓSITO VERDADEIRO?
O propósito verdadeiro do Rua das Artes, está na sua raiz: O MAR de Palhaços. Vem fazendo parte deste movimento, por enquanto, dois grupos, a Cia Obcena de Artes e a Cia Pé na Terra. Nós temos estabelecido nosso movimento de arte de rua, com palhaçaria, formando pontos de roda, criando cultura de artista de rua. Se formos pra Europa podemos ver em alguns países que falta espaço pra tanto artista. Por que aqui essa falta de reconhecimento? Sentimos uma dor profunda ao ver alguns artistas passando necessidade, ou atendendo telefone, ou se integrando a um cargo executivo qualquer porque acha que não se pode viver da arte na cidade de Salvador? E
Existe um Ethos na nossa sociedade brasileira, ou mais especificamente, soteropolitana, de que ser artista é não ser digno, mas nós do MAR dizemos que ser artista é ter qualidade de vida, é obedecer aos impulsos de nossos corações, é não abrir mão da nossa autenticidade, da nossa liberdade de sermos quem somos. É um ato de intento inflexível, de caminhar para um propósito, de sabermos qual é nossa missão nesse planeta adoecido pelas estapafúrdias idiotices humanas. De estabelecermos nossa emancipação diante da ignorância das infinitas possibilidades de re-qualificação das relações sociais e de desenvolvimento humano no território.
quarta-feira, 27 de junho de 2012
Rua das Artes em 26 de junho de 2012
!
bjo
Paspalhos queridos, que lindo ver o encontro hoje no campo grande!
Tive que sair mais cedo, e fui com uma sensação tão boa!
Fico muito feliz com o movimento!
Até terça.
bjo
Naia Prata
Tive que sair mais cedo, e fui com uma sensação tão boa!
Fico muito feliz com o movimento!
Até terça.
bjo
Naia Prata
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