*Por Igor Caxambó (www.penaterradospalhacos.blogspot.com)
O que torna ou caracteriza o uso do espaço é o seu
uso. Intensificar o uso público do espaço é um dos objetivos do MAR de
Palhaços. Mas não é somente isso. Nosso objetivo é fortalecer nossa prática de
arte de rua que é intrinsecamente pública, com a consciência de que nossa arte,
para continuar existindo e se fortalecendo, precisa de espaços públicos bem
servidos dos elementos principais que o caracterizam como públicos: as pessoas.
O poder da arte de rua é de agregar as pessoas, acalentar espíritos, tornar o
entretenimento algo realmente importante no sórdido cotidiano produtivista
deste sistema em que vivemos. Dizem que vivemos em um estado de democracia e de
liberdade, mas a verdade é que uma pequena elite de poderosos vive a democracia
entre eles e desfruta da “liberdade” de oprimir através de um sistema de escravidão
assalariada. Através de poderosos discursos ideológicos permanentemente
introjetados na nossa cultura materialista, algumas “verdades” sobre o ato de
fazer arte desconsideram sua importância e relegam-na a algo menor pois afinal,
o que a arte produz de fato? Qual bem material a arte produz? Nenhum,
efetivamente?
Para nós, do
MAR de Palhaços, a arte pode produzir no mínimo liberdade, saúde e
consciência. A capacidade de conexão inter-humana nos faz bater mais forte
nosso coração. Expressar-nos ao ar livre nos faz enxergar coisas que dentro de
quatro paredes servindo a um patrão ou ao Estado nunca seriam enxergadas.
Passamos a pulsar contra os condicionamentos correntes do sistema sobre os
seres humanos e a irradiar energia dentro de um fluxo de possibilidades. Somos
perigosos para o sistema porque não aceitamos o fato dado, a realidade como ela é. Acreditamos que podemos
modificá-la e acreditem, nosso poder de criatividade já a modifica. Não é
revolução, não nos moldes clássicos, mas é anarquia sim! É liberdade ao
extremo, mas não a liberdade burguesa. A liberdade que cultivamos é aquela que
só aumenta quando aumenta a liberdade do outro, pelo simples fato de que quanto
mais livre o outro mais difícil da liberdade acabar. É Hiper-Evolução (não
confundir com Hiper-revolução). A Hiper-evolução se faz com micro-revoluções
cotidianas e essa é a principal característica do Rua das Artes Encontro de
Circo.
No dia 24 de julho de 2012, por exemplo, essa nossa ação
adquiriu mais poder nesse sentido. Nosso camarada Ale, o poeta, já viu a galera
da Dança de Rua fazendo uma função na sinaleira, já convidou a galera pra
aparecer e a galera já deu o ar da graça no nosso encontro. E assim vamos
seguindo, formando aqueles que se interessam em adentrar no mundo da arte de
rua e agregando aqueles que já a praticam. Fica um desafio para todos nós.
Estamos cuidando para que isso se torne sistemático? Que outras
micro-revoluções podem ser acessadas através disso? Como podemos fluir para o
cotidiano? Não esperamos que nenhuma resposta surja de um líder iluminado pelo
farol de seu próprio ego, mas insistimos que esta resposta surja na consciência
geral, através de todos nós e que nossa conexão Hiper-Evolucionária mostre que
dependemos somente da responsabilidade de cada um e da conexão de todos.